CONFERÊNCIA "Por uma Cultura de Regulação"
25 de Outubro de 2007 - 10.00h
Painel III "Regulação e Mercados"
Presidente da Mesa
Elísio de Oliveira
Vice-Presidente da ERC
Oradores
Francisco Pinto Balsemão
Presidente da Impresa
Manuel Polanco
Administrador Delegado da Media Capital
José Luis Ramos Pinheiro
Administrador da Rádio Renascença
António Lobo Xavier
Comissão Executiva da Sonaecom
Rolando Oliveira
Administrador da Controlinveste
Carlos Cruz
Administrador da Cofina
Comentador
Alberto de Castro
Director da Fac. de Economia e Gestão da UCP (Porto)
Síntese Conclusiva
Neste painel, Francisco Pinto Balsemão, Presidente do
Grupo Impresa, defendeu a discussão sobre a regulação, especialmente no quadro das
liberdades, da procura da verdade, da auto-determinação democrática e da expressão do
pensamento, salientando que sendo constitucionalmente garantidas, as restrições às liberdades
e garantias individuais nunca podem ir além da justa medida. Balsemão alertou para os perigos
de uma pré-definição da liberdade e de intervenções experimentais sobre a mesma. Para além
disso, e tendo em conta que não há mercado mais sensível que o da comunicação social, as
regras e a regulação devem adaptar-se às mudanças do mercado e da sociedade.
Balsemão defendeu a existência de uma entidade reguladora credível, amigável (friendly) e
flexível às sucessivas mudanças tecnológicas, à auto-regulação e à co-regulação como uma
solução eficaz.
Manuel Polanco, Administrador-Delegado do Grupo Media Capital, frisou o papel da
comunicação social na sua função de salvaguarda de alguns princípios fundadores dos direitos
dos cidadãos, como o pluralismo e a liberdade de expressão. Considerou que as práticas
regulatórias vigentes são excessivas, existindo uma “tendência crónica para a sobre-regulação”.
Para Manuel Polanco, a articulação do enquadramento do sector passa pelo princípio de
aplicação geral da lei, complementada pela auto-regulação, desembocando num quadro
regulatório simples e pragmático, abrangente e suficientemente flexível tendo em conta as
matérias da convergência.
Rolando Oliveira, Administrador da Controlinveste, centrou a sua intervenção na nova lei
sobre os limites à concentração dos grupos de comunicação social e no papel do Estado
enquanto garante do pluralismo e da liberdade de expressão. Em sua opinião, a Autoridade da
Concorrência já cumpre estes limites. Defende, assim, que a ERC não deveria intervir nas
questões económicas da comunicação social. Em sua opinião, existe um desajustamento das
regras em relação à realidade do mercado, que limitam o crescimento orgânico das empresas.
Para que o mercado funcione, afirmou Rolando Oliveira, deveria existir o mínimo de
interferências, sendo também necessário algum nível de concentração.
António Lobo Xavier, membro da Comissão Executiva da Sonaecom, manifestou-se a favor
de uma menor intervenção do Estado na actividade de regulação. A este propósito, referiu que
se a regulação pode introduzir uma medida no desequilíbrio do mercado, essa visão não passa,
por vezes, de uma sombra onde se movem as influências políticas sob uma aparência de
independência.
Lobo Xavier salientou a importância de uma regulação positiva, de incentivo ao mercado e não
meramente sancionatória.
José Ramos Pinheiro, Administrador da Rádio Renascença, abordou a questão da
responsabilidade social dos media fundada numa visão ética da comunicação, atribuindo aos
meios o interesse na salvaguarda da qualidade dos serviços que prestam. Reconheceu o papel
da regulação em sentido genérico, agindo quando a auto-regulação do mercado é insuficiente e
rejeitou a ideia neo-liberal que tudo aceita, permite ou admite.
Afirmando que o Estado continua a deter o papel de proprietário de media e de árbitro do
mercado, José Ramos Pinheiro sugeriu a introdução de membros e representantes das
empresas e dos consumidores no Conselho Regulador da ERC.
Carlos Cruz, representante da Cofina, mostrou algum cepticismo relativamente à regulação,
afirmando-se contra a intervenção do Estado no sector da comunicação social. Para este orador,
a solução está na capacidade de saber dosear a intervenção do regulador, de forma a que não
existam limitações ao normal funcionamento do mercado. A seu ver, existe já um conjunto de
regras específicas sobre as empresas de comunicação social que tornam a sua actividade
suficientemente monitorizada.
Para o representante da Cofina, a concentração por si só não significa ameaça ao pluralismo, à
diversidade e à concentração. Afirma-se o “mais favorável possível à co-regulação e à autoregulação”.
Alberto de Castro, comentador deste painel e Director da Faculdade de Economia e Gestão
da Universidade Católica do Porto, salientou a existência de alguma confusão entre questões
de regulação e questões de concorrência. Defendeu que a necessidade de regulação do sector
deverá estar relacionada com a natureza do bem que está a ser produzido, que no caso da
comunicação social é um bem de mérito.
Segundo o orador, por razões históricas, ainda existe em Portugal algum excesso de regulação
que pode impedir o regular desenvolvimento do mercado. Contudo, a seu ver, a regulação não
deverá aumentar as incertezas inerentes a este mercado. Sugere, finalmente, que seria
importante medir os custos e os benefícios da regulação e fazer uma auto-avaliação das
entidades reguladoras. |