ERC recomenda que televisões generalistas apresentem maior diversidade e pluralismo nos telejornais da noite
Regulador avalia obrigações legais através de temas, regiões, fontes de informação e protagonistas
A ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social publica hoje o Relatório sobre o cumprimento das obrigações de Pluralismo e Diversidade, no ano de 2019, pelos telejornais do horário nobre (20/21 horas) dos serviços de programas generalistas nacionais de acesso não condicionado livre, RTP1, RTP2, SIC, TVI e de acesso não condicionado com assinatura, CMTV.
Nesse documento, o Conselho Regulador recomenda que os operadores generalistas diversifiquem os telejornais de horário nobre para além dos temas política nacional, desporto e ordem interna, política internacional (no caso da RTP2) e sistema judicial (no da CMTV).
A ERC especifica como formas de diversificação, a cobertura de modalidades desportivas além do futebol, a não restrição da ordem interna à atualidade trágica e a garantia de pluralismo cultural. O predomínio da Grande Lisboa leva também o regulador da comunicação social a alertar para a necessidade de se diversificar a informação noticiada por outras regiões.
A ERC considera ainda que as fontes de informação e os protagonistas das peças deveriam representar mais contextos sociais e ser dada mais voz e destaque a pessoas do sexo feminino. Também se sugere que os cidadãos portadores de deficiência, migrantes e representantes de minorias étnicas, religiosas, linguísticas e culturais mereçam «maior cobertura informativa» por parte dos operadores.
Os resultados baseiam-se na análise de uma amostra de 30 edições de cada noticiário, no total de 150 telejornais e 3 694 peças. O relatório foi elaborado pelo Departamento de Análise de Media da ERC e aprovado pelo Conselho Regulador através da Deliberação ERC/2020/183 (PLU-TV).
Recorde-se que os princípios subjacentes à diversidade e ao pluralismo na informação estão definidos pela Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido, no artigo 9.º, n.º 1, alínea c)), artigo 34.º, n.º 2, alíneas b) e c) e artigo 51.º, n.º2, alínea b) e c) e no Estatuto do Jornalista artigo 14.º, n.º 1 e n.º 2, em ambos, alíneas e)).
De seguida, sintetizam-se os resultados das variáveis analisadas pela ERC:
Tema dominante:
- Os temas política nacional, ordem interna e desporto preenchem metade dos alinhamentos do Telejornal, Jornal da Noite e Jornal das 8. No Jornal 2, política nacional, internacional e europeia e cultura perfazem dois terços do bloco. No CM Jornal 20H, ordem interna, desporto e sistema judicial reúnem dois terços e, com política nacional, três quartos das edições.
- A diversidade temática, medida pela duração de cada tema em relação a todos os abordados em cada alinhamento, é maior no Jornal das 8 e no Jornal da Noite, através de dez temas. No Telejornal a média desce para sete temas e no Jornal 2, para cinco, ainda que este seja o bloco mais breve. No CM Jornal 20H, há cinco temas dominantes, com a ordem interna a ocupar 40% da duração dos blocos.
Enfoque geográfico
- Quanto à geografia dos acontecimentos, mais de metade dos telejornais da RTP1, RTP2, SIC e TVI e pouco mais de três quartos dos da CMTV noticiam assuntos do país sem especificar uma região. Se uma zona é particularizada, prevalece a Grande Lisboa. O Grande Porto e o Centro são as zonas a seguir mais noticiadas. O CM Jornal 20h é o que menos trata o enfoque combinado nacional e internacional e o Jornal 2, o que mais incide nesse ângulo. A atualidade internacional está sobretudo nos alinhamentos do Serviço Público e da SIC, e em cerca de 10% das peças tanto do Jornal das 8 como do CM Jornal 20H.
- A atualidade internacional centra-se no continente europeu em cerca de metade da amostra, no CM Jornal 20h, no Telejornal e Jornal da Noite e pouco menos nos outros blocos. Num quarto das peças, os acontecimentos têm origem no continente americano (Estados Unidos da América), sobretudo no Jornal das 8 e, com igual destaque, no Jornal 2 e CM Jornal 20h. Os enfoques menos representados são o internacional genérico (sem referência a um país) e sobre vários países, e centrados nos continentes africano, asiático e na Oceânia.
Fontes de informação
- A origem da informação está concentrada nas fontes da política nacional, sociedade, comunicação, ordem interna, comunidade internacional e desporto, com diferenças por blocos.
- As fontes da política nacional são mais presentes na RTP e SIC e menos na TVI, por ordem decrescente, através dos partidos da oposição parlamentar, Governo e Presidente da República.
- As fontes da sociedade são sobretudo consultadas pelo CM Jornal 20H, Jornal das 8 e Jornal da Noite e correspondem aos moradores/habitantes, adultos, manifestantes, familiares (de vítimas ou suspeitos de crimes) e representantes de movimentos cívicos/humanitários. São menos referidas nos alinhamentos do Serviço Público.
- As fontes da comunicação correspondem a imagens de jogos de futebol transmitidos pela SPORT TV, incluídas nas peças do CM Jornal 20H, Jornal das 8 e Jornal da Noite e pela atribuição a outros órgãos de comunicação social, sobretudo no Jornal 2 e Telejornal.
- As fontes da ordem interna estão mais representadas no CM Jornal 20H e, progressivamente menos, no Jornal da Noite e no Jornal das 8, na sua maioria através de agentes das forças de segurança, vítimas e membros dos bombeiros/Proteção Civil.
- As fontes da comunidade internacional têm maior destaque nos blocos do Serviço Público. O bloco da CMTV é aquele em que esta origem da informação resulta menor.
- As fontes do desporto são mais frequentes no CM Jornal 20H e Telejornal que no Jornal da Noite e Jornal das 8 (6%). Nos quatro blocos, concentradas nos futebolistas, treinadores e presidentes dos clubes de futebol da Primeira Liga, seguidos dos associados/grupos de adeptos, enquanto as organizações/federações desportivas são menos consultadas. O Jornal 2 não regista fontes do desporto pela sua orientação editorial.
- O predomínio de fontes do sexo masculino mantém-se em 2019, sobretudo nos blocos da RTP, enquanto os operadores privados reduzem o desequilíbrio sem o ultrapassar.
- A diversidade das áreas de fontes distribuída por temas revela que o Jornal da Noite é o que mais constrói a informação com origens diferentes, em dez temas. O Telejornal e Jornal das 8 apresentam maior diversidade de fontes em oito temas e o Jornal 2, em dois temas. No CM Jornal 20H, a diversidade é menor, de entre as peças com informação atribuída, e a informação provém maioritariamente das mesmas áreas.
Ator principal:
- A generalidade das peças dos telejornais de horário nobre é personalizada. Os protagonistas concentram-se na política nacional, desporto e ordem interna. Em segundo lugar, no Jornal 2, predominam os atores da comunidade internacional e da cultura. No CM Jornal 20H, a prioridade é para os atores da ordem interna, seguidos pelos do desporto e da política nacional. No Jornal da Noite e no Jornal das 8 prevalecem os atores da política nacional e do desporto e, em terceiro lugar, os da ordem interna na SIC e em igual proporção estes e os da sociedade, na TVI.
- O protagonismo de atores de minorias (imigrantes/refugiados/minorias étnicas e religiosas) é raro nos cinco blocos, com cerca de 1%, no Jornal da Noite e Jornal 2.
- Os atores nacionais são os mais referidos, em mais de metade das peças, e há uma concentração nos atletas e técnicos desportivos, secretários gerais e presidentes dos partidos, ministros, suspeitos de crimes e atos ilícitos, vítimas, primeiro-ministro e Presidente da República. Os protagonistas internacionais são sobretudo representantes de Estado e de Governos estrangeiros, de países-membros da União Europeia, atletas e técnicos desportivos.
- O destaque a protagonistas do sexo masculino verifica-se em cerca de três quartos dos blocos e associados à política nacional, desporto e ordem interna, enquanto as mulheres surgem mais na ordem interna, política nacional, sociedade e comunidade europeia. Os protagonistas de ambos os sexos estão referidos à sociedade, ordem interna e política nacional.
A versão completa pode ser consultada em: Relatório de avaliação das obrigações de Pluralismo e Diversidade nos serviços de programas televisivos Análise dos serviços noticiosos de horário nobre da RTP1, RTP2, SIC, TVI e CMTV em 2019.