Table of Contents Table of Contents
Previous Page  10 / 332 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 10 / 332 Next Page
Page Background

ERC – Relatório de Regulação 2016 · Volume I

10

Este Relatório de Regulação refere‑se ao ano da morte

de Umberto Eco.

O grande semiólogo italiano deixou-nos em 2016,

mas legou-nos um livro póstumo cujo título é

uma misteriosa frase de

A Divina Comédia: Pape

Satàn Aleppe.

Os especialistas não se entendem sobre o significado

da expressão que não terá, sequer, uma tradução

possível para qualquer língua conhecida. É, apenas,

uma interjeição dantesca feita por alguém no círculo

do Inferno.

A versão portuguesa do livro mantém, porém, uma

série de palavras no latim original ou no italiano

corrente, provando assim que as línguas do sul da

europa falam entre si e dispensam tradutor. Diz‑se, por

exemplo, no posfácio que as crónicas foram publicadas

no semanário italiano

l’Espresso

sob o título genérico

de

La Bustina di Minerva

- que em português se

poderia chamar «A Caixa de Minerva» - mas quando

se trata de traduzir as referências de Umberto Eco aos

grotescos

reality shows

contemporâneos não se fala

do ”Grande Fratello” como o autor sempre fez, mas

opta‑se pela versão britânica da orwelliana expressão:

Big Brother

”, naturalmente!...

Podem parecer despropositadas estas notas sobre

um livro póstumo de Umberto Eco na apresentação do

último Relatório do Conselho Regulador a que presido,

mas, desde os

Apocalípticos e Integrados

, considero

o autor de

A Obra Aberta

como o filósofo que melhor

explica o sistema mediático e a respetiva agenda.

Eco tanto foi capaz de inventar um celebérrimo

romance policial (

O Nome da Rosa

) passado na

Idade Média como soube discorrer sobre

Kant

e o Ornitorrinco

ou escrever uma simples novela

intitulada

Número Zero

sobre a criação de um jornal

que nunca chegou a sair, mas que nos antecipa a Itália

berlusconiana já quase esquecida.

Este Relatório de Regulação da nossa paisagem

mediática sistematiza um ano em que a vedeta das

televisões foi o improvável Pedro Dias, que, depois

de alegadamente assassinar um GNR e um casal,

andou vários dias fugido à perseguição policial,

acabando por entregar‑se em direto na televisão

pública. Quanto ao resto, foi um ano de futebol (jogado,

falado, caseiro e europeu); foi um ano de política

alargada no seu novo arco de governação alargado à

esquerda e de um

selfie

presidencialismo afetivo em

todo o terreno e todas as televisões, todos os dias da

semana; 2016 foi um ano de referências várias à ordem

interna com alguma conflitualidade artificial, mas

menos crispação e pouca agenda internacional.

E foi pena porque foi o ano da chegada de Trump

à Casa Branca e do Brexit do Reino Unido. Houve

menos refugiados nas notícias, mas eles continuaram

a chegar em larga escala às costas europeias.

Foi também o ano da grande passagem ao digital

e de alguns naufrágios analógicos.

Neste relatório há novos capítulos dedicados à

Transparência dos Grupos de

Media

, à Literacia

para os

Media

, à questão do Género nos

Media

e à Regulação dos Meios Digitais. Será possível

encontrar capítulos mais técnicos sobre fiscalização

das rádios no terreno ou sobre os níveis do volume

sonoro. Novidades que se destacam também

com uma abordagem mais detalhada da situação

económico‑financeira dos grupos e da revisão

da Diretiva Europeia AVMS.

Este foi ainda o ano em que alguns regulados

revelaram uma certa falta de humildade no

reconhecimento de erros jornalísticos, respondendo

com os milhões das suas audiências às queixas de

centenas de cidadãos, mas como perguntava Umberto

“2016 foi um ano

de referências várias

à ordem interna com

alguma conflitualidade

artificial, mas menos

crispação e pouca

agenda internacional.”

APRESENTAÇÃO

O NOME DA PROSA