ERC participa em conferência internacional que discute Jornalismo de Qualidade
Na última semana de Novembro debateu-se o Jornalismo de Qualidade (Last) Call For Quality Journalism (https://www.coe.int/en/web/freedom-expression/qualityjournalism2019), numa conferência internacional organizada pelo ministro da Cultura da Eslovênia, Zoran Poznič, na capital Liubliana, com o patrocínio do Conselho da Europa. A ERC esteve representada pela vogal do Conselho Regulador, Fátima Resende.
A conferência reuniu 150 participantes de 40 nacionalidades, de órgãos de comunicação social (editores e jornalistas), de reguladores e instituições de corregulação, além de académicos, legisladores e advogados especializados na área. Os membros da sociedade civil contribuíram com intervenções sobre a responsabilidade coletiva na criação de um ambiente favorável ao jornalismo de qualidade. O objetivo foi a troca de opiniões sobre a realidade actual da produção de notícias, a definição de padrões aplicáveis e a maneira de, na prática, os tornar eficazes.
Também se recolheu ideias para possíveis políticas de fortalecimento e de apoio ao jornalismo independente e de qualidade. Foram ainda discutidos outros temas como a conquista da confiança do público, as fake news e a verificação dos factos, e a Literacia mediática.
O ministro da Cultura da Eslovénia sintetizou os riscos atuais para a qualidade do jornalismo:
- a origem das fontes de informação e os sítios eletrónicos concebidos para criar ou propagar a raiva e o medo, e para manipularem a opinião pública
- a decisão de que notícias são apresentadas, e com que destaque, estar hoje, em parte, nas plataformas eletrónicas
- a tendência de a pesquisa de notícias nas redes sociais e em aplicações fechadas para troca de mensagens promover uma seleção orientada por preconceitos
- o avanço do registo emocional dos gostos e das partilhas, e o recuo de elementos racionais como o rigor e a busca da verdade
- a amplificação de ideias polarizadas e da diferença em vez de as notícias promoverem a expressão de opiniões e de um debate público com significado para criar comunidades informadas
- a reunião e utilização de dados pessoais dos utilizadores gera receitas de publicidade antes distribuídas pelos meios tradicionais
- a resposta de algumas empresas de media às perdas de receitas: a redução de custos como os do trabalho dos jornalistas e os do contacto direto com as fontes de informação, o que reduziu a diversidade de perspetivas no jornalismo
- apesar de outras terem aproveitado o potencial das tecnologias digitais para interagirem diretamente com as suas audiências, isso não garantiu a sustentabilidade financeira do setor
Segundo o próprio, «os media, outrora selecionadores privilegiados de notícias e de informação, têm agora inúmeros concorrentes pela atenção pública num mundo democratizado e eletrónico, em que os trabalhos jornalísticos aparecem muitas vezes ao lado de conteúdos que não estão sujeitos ao mesmo enquadramento regulatório nem ético».
Pelo lado da receção a organização, Zoran Poznič identifica a ameaça de que «alguns utilizadores não são capazes de distinguir entre fatos e opiniões, entre fontes credíveis e suspeitas. Assim como muitos não estão conscientes de como os serviços de pesquisa operam, nem como a tecnologia pode influenciar as suas escolhas de media. Como resultado, o fosso entre os muito e os menos informados está a crescer, requisitando o compromisso de múltiplos parceiros para fortalecer a literacia mediática.» O Conselho da Europa indica o paradoxo de cada vez mais haver a perceção de descrédito das redes sociais como fonte de informação, mas de como, «apesar disso, não há evidências de uma migração para os media em que confiam mais».
As questões indicadas pela organização como específicas da regulação dos meios de comunicação social:
- «Qual é a resposta construtiva à erosão das audiências?
- Como pode a autorregulação ajudar a garantir a ética profissional e restaurar a confiança pública no jornalismo?
- Que responsabilidades devem ser estabelecidas para as plataformas eletrónicas de maior dimensão, em muitos aspetos a atuarem como editores?
- Como é que as pessoas podem ser capacitadas pela literacia mediática para serem mais ativas na seleção das fontes e na confiança e no pagamento que lhes atribuem?
Como estão os Estados a encorajarem e a fortalecerem a independência e a qualidade do jornalismo através do seu quadro regulatório e institucional?»