Ministro Miguel Poiares Maduro, no encerramento da conferência Media na Era Digital
«Os media são os editores da democracia»
«Os media são os editores da democracia», afirmou Miguel Poiares Maduro, Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional, na sessão de encerramento da VI Conferência Anual da ERC Entidade Reguladora para a Comunicação Social, subordinada ao tema os "Media na Era Digital". Na sua intervenção, Poiares Maduro partilhou a sua visão optimista e pessimista, fruto dos incentivos contraditórios trazidos pela era digital, questionando qual «o impacto dos media na construção do espaço público», perante o novo paradigma de comunicação.
O Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional salientou que a internet contribuiu para o aumento da presença dos meios de comunicação social no digital, considerando, contudo, que se acentuam os «problemas e conflitos crescentes entre agregadores e produtores de conteúdos». Poiares Maduro explicou que a internet trouxe «uma grande transferência das receitas financeiras para os agregadores» de conteúdos, que beneficiam do trabalho dos media sem pagar os direitos de autor.
No que respeita às vantagens do digital, Poiares Maduro apontou «menos custos, mais leitores de notícias e novas formas de renovação de conteúdos». Relativamente à sustentabilidade financeira dos media digitais, o Ministro considerou que está «muito mais garantida do que no passado», porque «vão existir novas fontes de receitas comerciais» no futuro, já que a publicidade «vai regressar à comunicação social» e «a simplificação dos meios de pagamento online vai ser revolucionária no consumo de conteúdos online».
Miguel Poiares Maduro considera, no entanto, que o problema está nos custos de transição dos media atuais, que ainda não se ajustaram ao novo modelo de negócio com a aposta no digital. «Estes custos de transição têm um impacto potencialmente negativo na qualidade do jornalismo», e a precariedade dos jornalistas «pode afetar a qualidade do jornalismo», referiu. Por outro lado, «a falta de sustentabilidade dos órgãos da comunicação social e a sua dependência de determinadas fontes de financiamento podem colocar em causa a sua independência. Tudo isso são os desafios que enfrentamos na transição de modelos», destacou.
Evocando uma «visão benigna» em que qualquer um poderia ser produtor de informação, Poiares Maduro referiu que, «embora o digital pudesse promover a fragmentação da produção de informação, não é isso que se verifica. O que está a acontecer é uma concentração», defendeu. O Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional considera que «a maioria dos leitores procura fontes credíveis, não só de informação, mas sim o editor que julga credível. É por isso que assistimos a uma concentração».
Miguel Poiares Maduro referiu ainda que, no actual cenário, «a edição está cada vez mais a perder-se», uma vez que começa a perder-se a contextualização e a confirmação de informação. «É pela multiplicação de notícias que se assegura o contraditório», sustentou.
O Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional falou ainda da relação entre os media e as redes sociais e do papel destas no escrutínio e amplificação das notícias com elevada rapidez, considerando que se assiste a uma «menor distinção entre produção e disseminação de conteúdos». No campo da regulação, Poiares Maduro referiu ainda a dificuldade de se aplicar uma legislação em determinada jurisdição, uma vez que o digital não conhece fronteiras.