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O Jornalismo na Era Digital em debate na VI Conferência da ERC

«Há uma aceleração na forma de dar notícias, e isto é irreversível»

«Há uma aceleração na forma de dar notícias, e isto é irreversível», considerou David Dinis, diretor do Observador, na sua intervenção no painel “As Notícias nas Encruzilhadas do Digital”, que se realizou no âmbito da conferência “Media na Era Digital”, organizada pela ERC – Entidade Reguladora para a comunicação Social, ontem, quinta-feira, dia 6 de novembro. A propósito da disseminação de notícias na internet, em contexto digital, David Dinis alertou que «a velocidade aumenta o risco», potenciando a ocorrência de erros.

David Dinis considerou que se enquanto informadores tivermos a capacidade de reconhecer o erro, o público atribui maior confiança e credibilidade, explicando que esta atitude «torna a relação com o público mais próxima, o que é bestial». Relativamente às formas de acesso à informação, o diretor do Observador considera que «não há uma forma, nem tem de haver, os órgãos de comunicação social não têm de ser plurais, o jornalismo é que tem de ser plural», sustentando que «estamos a discutir o jornalismo digital como se fazia há 20 anos. O jornalismo evolui, mas os princípios básicos são os mesmos».

Pedro Santos Guerreiro, diretor do Expresso Diário, na sua intervenção, também no âmbito do painel “As notícias na Encruzilhada do Digital”, destacou que «há uma separação entre os sites agregadores de notícias e as redações que produzem conteúdos», reforçando que se tem assistido à transferência do valor da notícia do produtor para o distribuidor, e que «quem ganha dinheiro é quem distribui a informação que outros produzem». Por sua vez, Luís Galrão, diretor do blogue “Tudo Sobre Sintra”, considera que um projeto como o seu blogue local «vinga pelo espaço que os media regionais abriram», explicando que os media regionais deixaram de cobrir uma série de situações locais que têm interesse para determinado público.

O painel “As Notícias na Encruzilhada do Digital” contou ainda com a intervenção, via Skype, de Mark Little, CEO e fundador da Storyful, que referiu que se verificou uma revolução nos últimos anos no jornalismo com a evolução das redes sociais e, para se manterem relevantes, os jornalistas têm de se ver como gestores de conteúdos. «O jornalismo não está mais nas mãos de uma elite, os cidadãos criam e partilham notícias», refere Mark Little, reforçando que esta nova geração exige uma nova forma de jornalismo.

A sessão de abertura da conferência “Media na Era Digital” contou com as participações de Fernando Luís Machado, vice-reitor do ISCTE, Carlos Magno, presidente da ERC, e Teresa Caeiro, vice-presidente da Assembleia da República, que destacou na sua intervenção que «é bom que os jovens tenham noção da importância da comunicação social como eixo estruturante da democracia». Por sua vez, Carlos Magno, antecipando o debate, afirmou que «não se pode falar de futuro com linguagem do passado, é preciso preparar o que vem aí», acrescentando que «no digital somos todos locais e somos todos globais».

Celso Martinho, diretor-geral do portal Sapo, fez a apresentação do tema “Mais Digital: Na rota da Web 4.0”, onde destacou o facto de estarmos perante uma revolução ao nível da computação física, e a questão dos “Big Data” e o desafio associado à importância da utilização dessa informação por parte das organizações. Celso Martinho falou da transformação na inovação digital, destacando que «50 biliões de dispositivos vão estar conectados entre si até 2020» e que «hardware é a palavra do momento em Silicon Valey».       

“Sociedade Digital: Que Direitos, Liberdades e Garantias?” foi o mote do painel onde Bernardo Herman, diretor-geral do Conseil Superieur de l’Audiovisuel para a comunidade francófona na Bélgica, partilhou a forma com o regulador que lidera está a lidar com estas questões.  «A regulação deve ser estendida aos players importantes na Web», referiu Bernardo Herman, explicando que é preciso estar atento às expectativas dos consumidores, que, neste contexto, «esperam proteção semelhante à do mundo offline». O diretor do Conseil Superieur de l’Audiovisuel partilhou que, na instituição que representa, «consideramos que os valores fundamentais devem ser garantidos, independentemente da plataforma».

Por sua vez, Alexandre Sousa Pinheiro, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, centrou-se no conceito de “privacy”, considerando que este tem «um espectro mais amplo que a privacidade», e destacou que «há que aplicar às redes sociais a lógica tradicional da proteção da informação pessoal». O professor alertou que «estamos perante um modelo social em que os mecanismos de defesa não são os mais adequados. Há necessidade de criar novos elementos, novos mecanismos de defesa», face às ameaças à privacidade.

José Magalhães, deputado da Assembleia da República, defendeu na sua intervenção que, como forma de autorregulação, «há que cultivar uma atitude de atenção, prudência, pudor e responsabilidade no meio digital», explicando que «estamos em meio aberto, devemos ter consciência e aceitar os riscos inerentes às novas tecnologias». O deputado manifestou ainda a sua posição contra o saudosismo e contra o discurso sobre o perigo tecnológico, pois, na sua ótica, «a tecnologia é usável e reversível».

Maria Eduarda Gonçalves, professora de Direito no ISCTE-IUL, a propósito do direito à privacidade e ao esquecimento nas plataformas online, defendeu uma atitude preventiva, considerando que «as responsabilidades regulatórias devem ser obrigatoriamente partilhadas neste novo contexto», pois «as autoridades são as primeiras a reconhecer dificuldade em proteger». «A prevenção pelo risco passa pela informação para as pessoas se autorregularem», salientou.

 

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